sábado, novembro 26, 2005

Moro na cidade do pecado

Moro na cidade do pecado,
em terra nenhuma…
no desiderato dos horrores,
na espuma pardacenta do tempo,
e na encruzilhada da esperança,
erigiu-se a minha casa.

Nas liquefeitas alquimias
de sonhos vergastados e densos
(como se tornaram pequenos e vagos...)
Com cinzas de pensamento -
Esse lodo,
Onde voariam pássaros celestes,
e círculos imaginários de éter
carregados de epilepsia,
neuróticos pilares de alma,
encontrei enfim a minha pertença.

A minha paz podre,
E a desesperança,
Humanizaram-se e desceram a terra.

O coração do homem é o seu reino,
E a sua casa sem brasões.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Ainda ela

Tanto tempo, tantas lágrimas meu amor.
Tanta fraqueza, tanto orgulho, tanta sinceridade.
Tantos impulsos, tantos travões, tantas explosões atómicas e campas vazias,
tanto vento sobre o nada, a estepe longa e veloz, e aquele sibilar macabro…. schhh….schhhh. schh….
e depois o nada, a morte, e as memórias.
Tanta dor, tanta dor...
este desalento cobarde, esta explosão de alma, esta expansividade inerte.
Meu deus! Quando é que chegámos a este estado? A esta morte?
Procuro em mim um poço, uma regeneração, uma paisagem, mas grito por Deus,
e as lágrimas moles, os punhos duros, o coração alquebrado…
tudo isto fazem de mim um ser incongruente e brando, alguém pesado e cansado.
Não baixei os braços meu amor, mas o tempo desfez-se e a esperança morreu.
Este é um último adeus, daqueles adeuses íntimos e secretos, daqueles que não se vão embora.

Ainda ela, ainda ela, ainda ela…
Uma obsessão.
E novamente a vida chama por mim.
Rotineiramente.
Ainda este coração rijo, pesado como um infinito sem fundo.
Ainda e sempre esta dor.
Paciência, faz-te homem.
É isto um homem? Onde está Cristo?
Onde está Cristo?

Ainda ela e a vida lá fora, a humanidade em disfarces e ocupações,
eu em disfarces e ocupações.
Esta estranha alquimia da dor e dos pensamentos negros,
E esta vaidade passional,
Esta força incrível que me puxa pra cima.
É o amor dos homens,
De si mesmos?
É a sua vingança?
A sua sobrevivência natural?
Cristo?
Talvez Cristo, essa força pura e regeneradora
Obrigado senhor!
Um pecador agradece.

Mas não, nada disto.
É ainda ela, o meu amor eterno.
A minha dor presente.
Ainda ela…
Porque não volta?
Porque não vem aplacar-me?

Sim eu também fui egoísta, e frio
E leve
Despreocupado e inconsequente até,
Aparentemente feliz.
Parece-me que fui criança há cem anos.
E que há cem anos sabia quem eras,
Éramos um no outro.

Ainda ela?
Quem é ela?
Morreu!
Morreu!
Morreu!
Três vezes morreu
Quantas vezes lhe chorei a morte,
E esperei por seu amor.

Ainda…
Ela.