Latejam-me as fontes, lateja-me o pensamento. Este momento tão sem-nexo, tão absurdo e sentimental, é um nada fátuo e vazio, nem mesquinha consolação, nem sombra de pensamento. Somente uma hipertrofia sensitiva, tensa e aflita, inútil e asfixiante, esfusiante, opressora. Abri a porta à beleza e à dor, ao amor de todas as coisas, à inconsequente e destrambelhada felicidade. Uma felicidade disléxica e manca, sem defesa.
Mas estou assim possuído, confusa e infantilmente possuído, Pessoído, entregue ao sentimento fugaz, abandonado a um ostracismo universal.
“As dores do Mundo” no dizer dos alemães- és isto que eu sinto;tu me pega pelos tornozelos da alma até ao céu de abismo e cândida efermidade. Corrupio, confusão, agitação e vazio…. inocente e plácido, implacável e estúpido. É uma morte sem rosto, como a Morte, mas ao mesmo tempo é a vida e o desalento histérico das sensações conjuntas.
Logicamente e metafisicamente nada; um arco-íris sensorial inflamado e frio, contrário, complexo e despido.
Dizem que Brahms queria abraçar o mundo inteiro… que bela e infantil quimera, que desvario tão sumptuoso, singelo, paternal e pertencioso, comovedoramente idiota. Não literalmente mas espiritualmente, intuidamente… quanta beleza nas sensações.
Bombas, bombas, bombas… quanto coaos ordenado!... afrodisíaco apocalipse, um orientalismo extravagante da consciência, uma afronta fétida e suave à razão!
Uma guerra estoura lá fora… uma guerra na minha cabeça pelo menos… uma guerra sem soldados, sem mortos e sem generais, bombas apenas. Bombas e fogo, riso e comedimento, não é a desmesura a medida dos sonhos, eles são afáveis, aprazivelmente clássicos e agradavelmente comedidos.
Assobiam as bombas como flautas. São um entretenimento, um pouco perigoso talvez, mas tão maravilhosamente inconsequente…
É doce poder brincar assim com este fogo imaginário, não real, antes previsto... flama literária e ancestral: chama que não queima só aquece…
Como é bom ver essas bombas, a ti o digo: tu que brincas despreocupado e leve… ouves o troar como eu o ouço? Não te fazem as chamas tremer a alma e suar o corpo como a mim? Não as vês como eu, ali ao fundo ao pé daquela despreocupada criança? Além perseguindo aquele velho absorto? Não sentes o cheiro a fogo, a carne, a caos, a descontrolo?
Não sentes como eu medo deste fogo? Não te sobem ao cérebro vómitos de um indómito, inenarável e primitivo horror? esse horror inefável e ilógico, despido de sorte e de contexto?
Não te queima nas entranhas do abismo e da animalidade? Onde está a marca visível desse fumo fétido e tangível?
Não a sentes como eu?
Diz-me então quem és, serás tu também um Homem como eu sou?
Se é vida, se é morte eu não sei, mas horroriza-me ao até ao mais fundo de mim, até aos alicerces do meu poço de inteligentsia- que é onde começa a torpe e desejada inconsciência: a anestesia da dor e do belo, a capa do possível…
Tu como eu o sentes, sim eu sei. Tu como eu tens medo e és criança no escuro. Tu como eu te drogas de realidade, de possibilidade e de verosimilhança. Talvez não acordes à noite como eu, mas como eu tudo isto já sentiste.
Ergue-te irmão, despede-te desse sonho vão, abandona sentimentalmente as tuas ilustações e solta furtivamente a tua gnose: é chegada a hora...
Acorda!
Abdulyasser